Uma vez ouvi uma frase que me marcou: o futebol
é a melhor metáfora da vida. Genial. Quem disse isso foi o Peninha, carimbado
jornalista gaúcho, quando perguntado sobre o Robinho, então vendido por milhões
de euros à Europa sob a esperança merengue de que ali estaria um jogador
brilhante, diferenciado. Pois Peninha amaldiçoou a carreira de Robinho, que de
lá pra cá amargou os bancos de reserva no Real Madrid e no Milan: “Não vai dar
certo. É só uma foca amestrada. Seria gênio em um picadeiro, não em um campo de
futebol”, disse o Peninha.
O futebol, concordo com Peninha, é muito mais do
que pedalada, está muito acima da firula. Leandro Adaime nos mostrou isso
ontem, quando fazia a final do Ranking Número 10 contra Guido e, em campo,
passou os 60 minutos de jogo guarnecendo sua zaga com uma faca entre os dentes.
Deu carrinho, salvou gol em cima da linha e, ainda assim, seu time empatava
amargamente, tolamente, distraidamente, entregando o título ao carioca Guido. Mas
o futebol, assim como a vida, é uma caixinha de surpresas. É árduo como a vida,
difícil como a vida, brigado como é a vida, mas justo e quase sempre com final
feliz, qual a vida. No futebol, vale mais o carrinho perfeito do que o drible
improdutivo; na vida, o trabalho é mais importante do que a aparência. No
futebol, o desarme está para o futebol como a dedicação está para a vida, e
Leandro sabe disso. O futebol e a vida têm caminhos tortuosos, com lágrimas,
percalços e poças d`água pelo caminho, mas com glória redentora no final. E
assim, aos 48 minutos do segundo tempo, quando a partida morria em um 7 x 7
chocho, o time de coletes recobrou a bola e ofereceu-a a Leandro que, pela
primeira vez aventurando-se dentro da área adversária em 60 longos minutos,
ajeitou, ajeitou e ajeitou, sob olhar atônito da zaga adversária. Pois Leandro
ajeitou a bola mais uma vez e o goleiro ficou gigante em sua frente, com quatro
tentáculos abertos para bloqueá-lo: Leandro chutou desajeitado, o Leandro chuta
bem melhor do que aquilo, mas aí estava a grande peça que o futebol nos prega,
já que Gustavo esperava uma bomba no canto e recebeu uma meia-bomba no
contrapé. Gol e o sinal tocando com o fim do jogo, quase simultâneos.
Leandro gritou, urrou, rodopiou em comemoração,
arrancou o óculos de Gian, deu um beijo na testa de Xuxa, telefonou para a
esposa. É campeão!, gritava. Leandro venceu por seu mérito e esforço e,
emocionado, pagou churrasco pra todo mundo no Parrilla Del Sur. Glória
redentora no final a Leandro pelo título, e aos demais só restou choramingar a
própria falta de esforço – mas de barriga cheia. O futebol é a melhor metáfora
da vida.
Jogo
568:
Ficha
técnica:
Com coletes (8): Bruno Dias, Leandro,
Xuxa, Anderson, Telmo, Guilherme e Mateus.
Sem Coletes (7): Guido, Gian, Dimitri,
Eduardo, Chicco, Pedrinho, Gustavo e Zanatta.